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julho 26, 2015

A visita.

Juvenal tinha uma grande amiga. Seu nome era Luzia. Os dois trabalharam juntos durante muito tempo. Juvenal era o chefe de Luzia numa loja de departamentos no centro do Rio de Janeiro. Quando aposentou-se, Juvenal resolveu realizar um grande sonho: voltar a morar no interior de Minas, onde nascera.
E foi do interior de Minas que ele partiu para cumprir a promessa que fez a Luzia de que voltaria para  visitá-la pelo menos uma vez por ano. Infelizmente, as coisas não andaram como ele planejou e a visita foi sendo adiada ano a ano. Somente depois de dez anos é que ele finalmente conseguiu honrar com sua palavra de amigo.
No início, eles se comunicaram bastante por cartas e, muito raro, por telefone, mas as cartas e os telefonemas foram se espaçando e acabaram sendo esquecidos. Juvenal passou alguns anos sem notícias de sua amiga Luzia.
Mesmo assim, ele decidiu viajar sem comunicar-se com ela. Queria chegar de surpresa. Durante a viagem, ele fez planos. Provavelmente, Luzia já estaria aposentada como ele e, o que era mais importante, sozinha. Dessa forma, ele poderia confessar o grande amor que sempre teve por ela e eles se entenderiam. 
Como o coração batendo forte no peito, Juvenal chegou à porta da casa da amiga no Rio de Janeiro. Um rapaz distinto de uns trinta anos veio atender a porta:
- Pois não.
Juvenal disse ao rapaz o que fazia ali. Ele queria falar com Luzia, a dona casa. O rapaz abaixou a cabeça e com um tom triste na voz disse:
- Dona Luzia não mora mais aqui.
Juvenal teve um choque. Ele jamais considerou essa possibilidade. Em sua imaginação, Luzia permanecia naquela casa como no dia em que despediu-se dela ali mesmo naquela porta. Muitas perguntas saltaram da boca de Juvenal. Ele precisava saber como encontrar sua velha amiga.
- Para onde ela foi? - ele quis saber.
O rapaz respondeu que Luzia estava morta. Morreu  há dois anos depois de grande sofrimento. A dor de receber tão triste notícia fez com Juvenal recordasse o passado.
- Foi ele que a matou, não foi? Aquele bandido a matou. Além de ter impedido que eu e Luzia vivêssemos nosso grande amor, ele a matou. Onde ele está? Eu vou acabar com ele.
Mesmo assustado com aquela reação, o rapaz tentou acalmar Juvenal chamando-o para entrar e sentar-se. Já mais calmo, Juvenal perguntou:
- O que você é dela?
- Filho. - respondeu o rapaz.
Juvenal achou aquela resposta estranha. Ele conhecia apenas um filho de Luzia. E ele era intratável, um verdadeiro marginal que causava os maiores aborrecimentos para a mãe. Muitas vezes, ele foi com ela tirá-lo da cadeia, noutras andou com a amiga atrás do filho por hospitais e necrotérios. 
- Acredito que ele tenha morrido também. Uma pessoa que levava aquele tipo de vida não poderia viver muito. - falou Juvenal.
Mais uma vez o rapaz abaixou a cabeça e Juvenal pode ver que ele chorava.
- Pelo que vejo, você era um filho amoroso. Bom saber que Luzia tinha outro filho e que esse filho a amava de verdade. Gostaria muito de ter conhecido você, meu filho. Eu amava muito a sua mãe.
O rapaz irrompeu no choro e, de repente, caiu de joelhos nos pés de Juvenal.
- Me perdoa, seu Juvenal. Me perdoa. Eu impedi que minha mãe realizasse o grande sonho da vida dela.
- Que sonho era esse?
- Ela sempre amou o senhor, seu Juvenal. E eu não deixei ela fosse ao seu encontro quando ela se aposentou, como ela tanto queria.
- Quer dizer que você é o Venâncio, aquele rapaz...
- Sim.
Juvenal teve dificuldades para acreditar. Como poderia o filho de Luzia ter se transformado daquela maneira? E ele quis duvidar acusando o rapaz de estar fazendo mais uma das suas traquinagens. Porém, a entrada de dois garotos chamando Venâncio de pai e uma jovem senhora com uma criança no colo, fez com que ele mudasse de ideia. Apesar de tudo, o filho de Luzia tinha se tornado outra pessoa: um pai de família.
Juvenal saiu dali certo de que onde quer que Luzia estivesse ela estaria feliz de ver que sua luta para salvar o filho não fora em vão.

Bom domingo.